quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Porque escrever é uma profissão, como outra qualquer

Ao trabalhar disciplinas como Redação e Expressão Oral, Texto Literário em Comunicação, Jornalismo Especializado, Jornalismo Alternativo, sempre repeti aos meus alunos – com quem aprendo tanto – que quem pretende escrever precisa, antes de mais nada, aprender a ler. É preciso ler muito (e muito corretamente) para aprender a escrever. Para quem é do ramo, antes de ter a sensação de que está escrevendo muito, melhor seria ter a sensação de que anda lendo muito mais.
Escrever. Por profissão. E também por prazer. Tem muito de arte nisso, porque é um exercício individual, subjetivo; mas é também uma ciência, uma vez que há muito de técnica no processo, objetivo.

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Mas ao mesmo tempo, sempre quis trabalhar de uma forma paralela, complementar, em relação às chamadas disciplinas estruturantes dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Para além dos livros técnicos dos cursos – obras de autores como Dines, Chaparro, Marcondes, Medistch, Marques de Melo, Mattelart, Mafesoli, Sfez, Bourdier, Hall, Veronezzi, Santana, Carrascoza, Covaleski, Machado, Zenoni, Blessa, Cobra, Kotler, entre tantos outros – gostaria de trabalhar conteúdos não-específicos, obras não-técnicas que, para mim, são tão importantes quanto as outras.
Alunos de Comunicação seriam profissionais tanto melhores quanto mais lessem Euclides da Cunha, Machado de Assis, Graciliano Ramos, José Saramago, Dostoievski, Hermingway, Eco. Descobrir o mundo através dos olhos desses autores e de seus personagens é uma experiência única, que revela um outro mundo. Some-se a esses nomes uma infinidade de outros, inclusive de outros gêneros. É possível se divertir muito com as crônicas de Nelson Rodrigues, de Fernando Veríssimo, Rubem Braga.
Ou alguém tem dúvida de que é possível aprender um pouco com Fabiano e Sinhá Vitória (Vidas Secas, Graciliano Ramos), com Capitu, Bentinho, Escobar (Dom Casmurro, de Machado de Assis) Raskolnikov e Porfiry (Crime e Castigo, Fiodor Dostoiévski), com a mulher do médico e os nascidos cegos (Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago)? Essa lista seria sem fim, aliás...
Pois bem. É disso que quero falar nesse espaço. E bem com essa cara, uma espécie de conversa de botequim sobre livros, sobre literatura e suas interseções com a vida, com os indivíduos. Nada de academicismo. Nada de rigor. Apenas uma boa conversa. Bem no ritmo dos folhetins. Por isso, Livretim.

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E todos têm algo a dizer. O professor que é um estudante profissional. Aquele estudante que passa pelo curso e aquele que faz o curso. O jovem, o velho, a criança...todos podem falar sobre o livro, o conto, o artigo, a crônica, a reportagem, enfim, podem falar de suas experiências de leitura. E o melhor de tudo é que nisso não há certo ou errado. Um grande aprendizado coletivo.
Lendo, analisando obras e personagens, descobre-se um outro mundo, como a outra noite, a que se referiu Rubem Braga numa de suas crônicas que, de tão simples e rica, entusiasmam. Conta a conversa que teve com um amigo, em um táxi, quando voltava do aeroporto para casa. Vinha de São Paulo, numa noite feia, de muitas nuvens e chuvosa. Disse que acima das nuvens feiosas, havia uma outra noite, linda, enluarada, pura. Logo que o amigo, a quem dera carona, desceu, o motorista do táxi puxou conversa, querendo checar a história de a noite estar linda acima das nuvens naquela noite tão enlamaçada. O homem, feliz com a notícia, chegou a olhar da janela do carro para o céu escuro como se tentasse ver a noite linda. Ao final, agradeceu ao passageiro, como se tivesse recebido um presente de rei.É que, de repente, lendo, o leitor começa a alçar vôos cada vez mais altos...para que de lá de cima possa ver as noites sempre lindas, enluaradas, puras...Adquire um novo ponto de vista...ou um novo olhar...